domingo, 6 de setembro de 2009

Crônica Slz


Um Beijo Roubado


De tudo o que já fez na vida, Don Paulo só se arrependera de uma única coisa, o medo de amar! Não que ele fosse um cara feio ou pobre, sempre foi um cara esforçado, desde cedo aprendera com o seu pai Dom José, que tudo o que a gente quer, com esforço e dedicação se consegue. Então tudo o que ele conseguira na vida fora fruto, do suor de sua testa, que já estava marcada por tanta labuta. Mas tão cedo, com esse ensinamento, veio também uma descoberta cruel, o pobre Dom não sabia como se aproximar das meninas, que viviam logo ali após a esquina da Rua das Amendoeiras. Toda vez que ele as via brincando com seus bambolês, seu coração girava tão quanto aqueles brinquedos. Ele ficava horas e horas naquela contemplação às ninfas, que ás vezes com uma corda, em 3, duas meninas segurando cada ponta e uma que pulava como uma bailarina em seu monologo desenfreado, o deixavam boquiaberto. Ele queria poder chegar junto a elas, e pensar que hoje de manhã elas eram suas companheiras de colégio, mas agora ele as olhava de maneira diferente. No cair da tarde ele queria está com elas em bailes que nunca terminariam, festas que só ele tocasse e dançasse a música ideal com as moças de sua mente. No entanto, tudo isso era miragem, pois ao menor instante próximo a dona de seus desejos, nem uma frase, palavra ou suspiro saía de sua boca, só após a foto. Ele crescia e a cada tamanho de camisa a mais, sua inaptidão aumentava, até que ele encontrou uma garota que lhe deu seu primeiro beijo, quer dizer roubou dele, pois Dom Paulo era tão lerdo que nunca conseguia roubar nada, e tal menina teve que tirar dele o que ele nunca havia dado a ninguém. Ele sentiu um sol em seu peito, naquele quase – sempre crepúsculo finalmente houvera a luz. Sem não se esquecer da imensa e rubra mancha em suas bochechas tão coradas tanto pelo sol, que ele quase não tomava, quanto pelo calor do crime. Cada festa que passou a frequentar com seus colegas era mais um desafio a ser encarado, nem sempre de frente como os heróis que tanto gostava, no desfecho delas, ele via os vultos dos colegas passarem como borrões por seus olhos, nunca sozinhos. Dom Paulo sempre gostava de assistir filmes com os quais um cara de óculos, cabelo penteado pro lado e gravata borboleta era zuado pelos valentões da escola, e no final dava o troco neles e ainda por cima ficava com a garota mais bonita de lá, o que ele mais gostava nessas histórias era que os tais “nerds”, assim eram chamados os protagonistas de óculos, tomavam uma coragem absurda e cantavam as princesas, que pena que ele também não usava óculos! Acordava todas as tardes com uma única certeza, aquele seria mais um dia de busca, de coragem talvez, como todos os outros dias, que já se esgotavam naquele calendário, mas que escorriam pelas novas crianças nascidas em sua testa. Ele lembrara certa vez em que chegara ainda mais perto de perder a virgindade de sua coragem, quando no meio de um porre à La Nero, quase tinha falado tudo o que sentia a uma moça da faculdade que ele andava de olho há muito tempo, no entanto como Dom Paulo mesmo ébrio ainda conseguia manter sua razão, ele desperdiçou a chance de provar que não precisava provar nada pra ninguém, e como sempre se arrependera no final. Agora tudo era diferente, pelo menos nos anos gravados em seus cabelos, agora com a noite que havia chegado, viera também uma tempestade que hora ou outra o deixavam mal, e escorriam dos olhos gotas do mar, e ele apreciava cada gole daquele vinho que o sufocava e o tornava cada vez mais morto. Nunca veio outra manhã, e tudo o que ele queria era ver outro raio de sol, adentrando sem pedir licença ou quem sabe um até logo. Mas, sempre esperava acima de tudo outro “mas”, que de tanto se querer não deixou prazer ou quem sabe um outro “ou”.

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